Pelo menos três escritores desistiram de participar do

Pelo menos três escritores desistiram de participar do Hay Festival, em Cartagena, Colômbia, em protesto contra a presença da venezuelana María Corina Machado na programação do evento, marcado para o fim de janeiro de 2026. Os autores citaram o apoio de Machado à campanha dos Estados Unidos contra o governo de Nicolás Maduro na Venezuela como motivo para o boicote.

A escritora colombiana Laura Restrepo comunicou sua desistência por meio de uma carta, na qual classificou María Corina Machado como “uma apoiadora ativa da intervenção militar dos EUA na América Latina”. Em sua declaração, Restrepo afirmou que não se deve dar espaço a “alguém que promove posições e atividades que submetem nossos povos e minam a soberania de nossos países”. Ela declarou que a intervenção imperialista deve ser rejeitada, não debatida.

O escritor colombiano Giuseppe Caputo também cancelou sua presença no festival. Em postagem nas redes sociais, Caputo expressou preocupação com o que chamou de “escalada da violência imperial” e decidiu se retirar do evento que decidiu convidar Machado, a quem relacionou a um prêmio dedicado a um “fascista responsável por esses crimes”.

A escritora e ativista dominicana Mikaelah Drullard afirmou que o convite concedido ao nome da oposição venezuelana representa a validação das suas posições, descritas por ela como justificativas para intervenção, invasão e militarização dos Estados Unidos na região do Caribe. Drullard ainda mencionou a “entusiasmo” de Machado com a eleição da ultradireita no Chile.

Apesar dos protestos, a participação de María Corina Machado no Hay Festival permanece confirmada. A venezuelana deve participar de uma conversa virtual com o jornalista Moisés Naím no dia 30 de janeiro. A equipe da política informou ao jornal britânico “The Guardian” que ela não irá comentar os boicotes.

O Hay Festival divulgou nota oficial afirmando que respeita a decisão dos escritores que optaram por não participar, mas ressaltou a importância do diálogo aberto e diverso. O comunicado destacou que o evento defende “a livre troca de ideias e a liberdade de expressão” e que não endossa opiniões pessoais ou políticas dos participantes.

María Corina Machado deixou a Venezuela recentemente para receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, na Noruega, em dezembro de 2025. Em entrevista coletiva no evento, Machado confirmou que contou com apoio dos Estados Unidos e de terceiros para sua saída do país.

Durante a fuga, a política venezuelana relatou ter fraturado uma vértebra. Ela anunciou que pretende levar o prêmio de volta à Venezuela e que planeja retornar ao país, apesar das ameaças de prisão feitas pelo governo Maduro. Machado disse considerar este um momento decisivo na história da Venezuela e que os venezuelanos sentem o apoio internacional.

Questionada sobre a possibilidade de apoiar uma intervenção militar dos Estados Unidos, Machado afirmou que “a Venezuela já foi invadida”, referindo-se à presença de agentes estrangeiros no território venezuelano. Ela citou a atuação da Rússia, Irã, grupos como Hezbollah e Hamas, bem como a presença de guerrilhas colombianas e cartéis de drogas, que, segundo ela, controlam partes do país.

Machado defendeu que esse conjunto de fatores transformou a Venezuela em “um polo do crime nas Américas” e que o regime de Nicolás Maduro é sustentado por um sistema repressivo financiado pelo tráfico e pela venda clandestina de petróleo. Ela conclamou a comunidade internacional a cortar o apoio a esse sistema.

O caso evidencia um ambiente polarizado em torno da crise política e humanitária da Venezuela, refletido em debates culturais e literários como o Hay Festival. A inclusão de uma figura política contestada como María Corina Machado motivou reações de autores que consideram a sua participação uma legitimização de posições favoráveis à intervenção estrangeira na América Latina.

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Fonte: g1.globo.com