Dizer “eu não quero” em vez de “eu não posso” é uma estratégia recomendada por especialistas para impor limites no trabalho e evitar o esgotamento. A orientação foi destacada por Helen Tupper, coach de carreira e cofundadora da Squiggly Careers, em meio ao aumento dos casos de burnout no Brasil.
Segundo Tupper, a expressão “eu não posso” abre margem para negociações e tentativas de convencimento, enquanto “eu não quero” apresenta uma recusa mais firme e difícil de ser contestada. Ela exemplifica que é possível estabelecer limites específicos, como não participar de reuniões em determinados horários para priorizar compromissos pessoais, como buscar filhos na escola.
O esgotamento profissional é um problema crescente que afeta trabalhadores em diferentes setores. A modelo e chef de TV Lorraine Pascale relatou ter sofrido burnout devido à dificuldade em impor limites e ao perfeccionismo exacerbado, que a fez aprovar pessoalmente cada receita de seus livros enquanto conciliava diversas responsabilidades.
Pascale descreve sintomas físicos e emocionais, como sensação de aperto no peito, autocrítica intensa e cansaço extremo, que a levaram a buscar ajuda profissional e atuar com mais equilíbrio. Sua experiência ressalta que o burnout pode atingir qualquer pessoa, independentemente do cargo ou área de atuação.
A médica Claire Ashley, autora do livro The Burnout Doctor, também destaca a importância de manter uma rotina que permita ao cérebro finalizar o ciclo do estresse para aproveitar o tempo livre. Ela aconselha ajustar metas e demandas de acordo com a capacidade mental e emocional atual de cada pessoa.
No Brasil, os afastamentos por burnout cresceram 136% entre 2019 e 2023, passando de 178 para 421 casos, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A pandemia agravou essa situação, refletindo o aumento da pressão sobre os trabalhadores.
Não é porque a pressão e as jornadas longas fazem parte do cotidiano profissional que os limites devem ser negligenciados. A especialista Helen Tupper enfatiza a necessidade de reconhecer os próprios sucessos e evitar comparações com os colegas para manter a saúde mental.
O psiquiatra Richard Duggins, do sistema público de saúde do Reino Unido (NHS) e autor de Burnout-Free Working, aponta que muitos trabalhadores sentem dificuldade para estabelecer limites em ambientes hierárquicos. Ele recomenda diálogo aberto com os chefes, pois muitos empregadores fazem ajustes para prevenir o burnout quando compreendem seus benefícios.
Além disso, Duggins afirma que, caso o ambiente não ofereça condições para esse ajuste, o trabalhador deve buscar alternativas para sua proteção. Claire Ashley complementa ressaltando que as diferenças nas fases da vida e responsabilidades pessoais devem ser consideradas para evitar cobranças incompatíveis.
A conjuntura atual reforça a necessidade de aprender a dizer “não” de forma assertiva no trabalho para preservar a saúde e a qualidade de vida. Como resume Lorraine Pascale, “ser ambicioso é bom, mas aprender a dizer não com mais frequência é fundamental”.
—
Palavras-chave relacionadas: burnout, esgotamento profissional, impor limites no trabalho, saúde mental no trabalho, equilíbrio entre vida pessoal e profissional, síndrome de burnout, estresse no trabalho, afastamento por burnout, prevenção do burnout, qualidade de vida no trabalho.
Fonte: g1.globo.com
Imagem: s2-g1.glbimg.com
Fonte: g1.globo.com

