O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, classificou nesta quarta-feira (12) a caderneta de poupança como um “Robin Hood às avessas” por sub-remunerar poupadores para financiar crédito imobiliário mais barato a outros setores. A declaração foi feita durante evento da Bradesco Asset, em que ele também defendeu a adoção de um novo modelo de crédito imobiliário.
Galípolo explicou que a poupança oferece liquidez diária e remunera abaixo da taxa básica de juros, ao mesmo tempo em que direciona a maior parte dos depósitos para financiamentos habitacionais. Segundo ele, esse arranjo beneficia principalmente os tomadores de empréstimos e penaliza os investidores, especialmente aqueles com menor acesso à informação.
De acordo com o presidente do BC, o sistema atual é “apoiado na desinformação” e não corresponde a uma política econômica progressiva, pois transfere recursos de poupadores para mutuários de maneira desigual. Ele defendeu, então, uma transição para um modelo baseado em captações no mercado, que permita maior equilíbrio entre prazo de captação e concessão dos créditos.
O Banco Central busca antecipar essa mudança à medida que os depósitos na poupança têm caído nos últimos anos, reduzindo o volume disponível para financiamentos imobiliários. Atualmente, 65% dos recursos captados na poupança são obrigatoriamente destinados ao crédito habitacional, 15% podem ser usados para outras operações, e 20% são recolhidos como depósitos compulsórios pelo BC.
Segundo Galípolo, o novo modelo espera alinhar os passivos (recursos captados) e os ativos (empréstimos concedidos), o que reduziria a necessidade dos bancos manterem altos depósitos compulsórios. Além disso, isso tornaria as taxas de juros mais sensíveis às decisões de política monetária, aumentando a eficácia do BC no controle da atividade econômica.
No início de outubro, o Banco Central deve lançar uma nova linha de crédito imobiliário focada na classe média, dentro do escopo dessa transição estrutural no financiamento habitacional. A medida deve contribuir para aumentar a oferta de crédito com base em fontes diversificadas e mais ligadas ao comportamento do mercado.
A mudança visa superar as limitações do sistema baseado predominantemente na poupança, que depende diretamente da quantidade de depósitos feitos pela população. O objetivo final é criar um ambiente mais eficiente para o crédito imobiliário, menos dependente de instrumentos que podem distorcer os custos para os investidores.
A nova estratégia, segundo a autoridade monetária, também contribuirá para tornar o sistema financeiro mais resiliente, ao distribuir melhor os riscos e aprimorar a alocação dos recursos direcionados à habitação.
*Reportagem em atualização.
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Fonte: g1.globo.com
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