Em janeiro de 1944, o governo dos Estados Unidos distribuiu

Em janeiro de 1944, o governo dos Estados Unidos distribuiu um manual que orientava a sabotagem simples para reduzir a eficiência de trabalhos inimigos durante a Segunda Guerra Mundial. Produzido pelo Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), antecessor da CIA, o material ensinava cidadãos comuns a comprometer atividades produtivas em países ocupados pelos nazistas.
O documento, chamado Simple Sabotage Field Manual, continha instruções para ações cotidianas que retardassem o trabalho, como marcar reuniões inúteis, aumentar burocracias e promover conflitos entre colegas. O texto sugeria, por exemplo, favorecer trabalhadores ineficazes, dificultar processos com exigência de múltiplas aprovações e criar obstáculos usando ferramentas improvisadas.
A proposta da sabotagem era atuar de forma indireta, por meio de decisões erradas, falta de cooperação e atitudes que desmotivassem os que mantinham a produtividade. O manual ainda aconselhava a destruir equipamentos e causar incêndios, com detalhes sobre como adulterar máquinas, obstruir sistemas e danificar veículos usando materiais comuns.
Especialistas destacam que essas táticas fazem parte do que hoje se chama guerra híbrida, que combina métodos militares e não militares para enfraquecer o inimigo. O cientista político Leonardo Bandarra explica que esse tipo de guerra envolve desde ataques cibernéticos até campanhas psicológicas, misturando ações que dificultam identificar limites entre paz e conflito.
Historiadores ressaltam que a Segunda Guerra Mundial ampliou o espectro das batalhas, exigindo estratégias diversas, incluindo espionagem e sabotagem. O historiador Victor Missiato afirma que o uso dessas técnicas se intensificou para enfrentar o avanço das forças nazistas em diferentes frentes.
A sabotagem indicava que o cidadão comum poderia agir discretamente para prejudicar seu ambiente de trabalho ou o sistema produtivo do inimigo, usando desde pequenos atos simbólicos à destruição física de máquinas. A ideia era criar atrasos, confusão e desgaste sem ser detectado facilmente, contribuindo para o esforço bélico aliado.
No contexto atual, especialistas veem as orientações do manual como exemplos do oposto das práticas modernas de gestão. Rafael Catolé, executivo e autor, ressalta que o guia incentiva o aumento da burocracia e o desperdício do tempo, atitudes consideradas ineficientes e prejudiciais para qualquer organização hoje. Ele ainda aponta que algumas empresas acabam adotando comportamentos similares, como reuniões improdutivas e excesso de controle administrativo que bloqueiam a criatividade.
O texto revela também a sofisticação do uso da guerra no cotidiano, mostrando como estratégias militares podem infiltrar-se na rotina das pessoas. O documento sugere que a sabotagem seja feita com hiperrresponsabilidade, interrompendo a produtividade por meio do excesso de zelo e minúcia, e reforça que mesmo pequenas ações podem fazer parte de um esforço coletivo maior.
Em suma, o Simple Sabotage Field Manual expõe métodos de sabotagem usados durante a Segunda Guerra para minar a eficiência de forças inimigas por meio da atuação de cidadãos comuns. O material, além de histórico, serve como alerta sobre práticas que causam disfunções em organizações e reforça o entendimento de que a guerra pode ser travada em múltiplas frentes, incluindo o ambiente de trabalho.
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Palavras-chave: manual de sabotagem, Segunda Guerra Mundial, guerra híbrida, OSS, espionagem, sabotagem simples, conflito bélico, CIA, sabotagem no trabalho, estratégias militares.
Fonte: g1.globo.com
Imagem: s2-g1.glbimg.com
Fonte: g1.globo.com