O aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros no dia 9 de julho afeta produtores nacionais que investiram anos na conquista de clientes no mercado americano. O tarifaço, que chegou a uma sobretaxa de 50%, atinge setores como café, mel e frutas, provocando perdas financeiras e incertezas para exportadores em diversas regiões do Brasil.
Daniele Alckmin, diretora-executiva da exportadora Agrorigem, em Santa Rita do Sapucaí (MG), exemplifica a situação do setor de cafés especiais. Após dez anos construindo uma carteira de clientes nos EUA, que representam 30% de seu faturamento anual, ela teve contratos cancelados. Dois embarques programados em julho e setembro foram suspensos, já que o cliente americano não aceitou dividir os custos da sobretaxa, prevista para produtos brasileiros e não prevista inicialmente para o café.
O cliente esperava que o café fosse incluído na lista de exceções às tarifas, já que mais de 30% do grão consumido nos EUA vem do Brasil. A exportadora ainda recebeu a informação sobre a possibilidade de evitar a tarifa ao enviar os produtos até 6 de agosto, mas a comunicação chegou após o prazo. Além dos efeitos financeiros, Daniele destaca o desgaste emocional gerado pelo impacto no relacionamento construído com seus compradores ao longo dos anos.
No interior da Bahia, o apicultor Joaquim Rodrigues enfrenta redução no preço de venda do mel, principal produto da sua propriedade. Com o tarifaço, as exportadoras passaram a pagar cerca de 18% menos, caindo de R$ 17 para R$ 14 o quilo. Joaquim produz cerca de 20 mil quilos anuais e vende 90% da produção para exportadoras cujo principal mercado são os Estados Unidos. A dependência das exportações ocorre porque o consumo interno de mel no Brasil é reduzido.
Joaquim é presidente da Associação dos Apicultores de Cipó e aguarda medidas do governo para minimizar os impactos. No fim de agosto, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar anunciou que utilizará recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para comprar produtos afetados pelas novas tarifas, incluindo o mel, mas os produtores ainda buscam esclarecimentos sobre a operacionalização dessas ações.
No Vale do São Francisco, em Pernambuco, o produtor de uvas Jailson Lira enfrenta incertezas em relação ao mercado americano, que responde por 40% do seu faturamento. Ele trabalha no sistema de consignação, quando a distribuidora norte-americana revende a fruta e paga a ele após comissão. Com a tarifa, ele ainda não sabe o impacto no preço final que receberá nas exportações que iniciam no fim de setembro.
Jailson aponta que as negociações são feitas com pouca transparência e que a alta demanda dos EUA tornava o país um cliente importante. Agora, o tarifaço representa risco para as oportunidades de negócios. Assim como Daniele e Joaquim, ele vive um momento de apreensão diante das mudanças impostas pelas sobretaxas.
O tarifaço americano altera o cenário para pequenos e médios produtores brasileiros que dependem das exportações. Além de perdas financeiras, a medida afeta vínculos comerciais consolidados a longo prazo e gera desafios para a reestruturação da venda dos produtos em mercados alternativos. Especialistas alertam para a necessidade de políticas públicas específicas para apoiar os setores afetados e evitar prejuízos maiores na cadeia produtiva do agronegócio.
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Fonte: g1.globo.com
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