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Da sustentabilidade da pesca ao luxo: desafios no comércio do couro de pirarucu

Da sustentabilidade da pesca ao luxo: desafios no comércio do couro de pirarucu
  • Publishedagosto 18, 2025

Pele de peixe gigante da Amazônia vira bolsa de luxo, mas ganho não chega a pescadores A pele do pirarucu, o maior peixe de água doce da Amazônia, tem ganhado destaque no mercado de luxo, sendo transformada em bolsas e acessórios vendidos por milhares de reais no Brasil e no exterior. Apesar do incremento econômico ligado à moda sustentável, a…

Pele de peixe gigante da Amazônia vira bolsa de luxo, mas ganho não chega a pescadores

A pele do pirarucu, o maior peixe de água doce da Amazônia, tem ganhado destaque no mercado de luxo, sendo transformada em bolsas e acessórios vendidos por milhares de reais no Brasil e no exterior. Apesar do incremento econômico ligado à moda sustentável, a valorização financeira não chega adequadamente às comunidades ribeirinhas e indígenas que garantem a preservação da espécie.

Do manejo sustentável ao mercado de luxo

O pirarucu é símbolo da biodiversidade amazônica e já foi classificado como espécie ameaçada de extinção devido à pesca predatória, especialmente nos anos 1990. Hoje, porém, o manejo controlado da pesca é apontado como exemplo bem-sucedido de sustentabilidade: a pesca ocorre em períodos específicos, permitindo a retirada de apenas cerca de 30% da população adulta para garantir a renovação dos estoques. Essa gestão é realizada pelas próprias comunidades locais, que vigiam os lagos e recebem autorização do Ibama para a captura.

Esse modelo ajudou a recuperar os estoques do pirarucu e se transformou em uma estratégia de conservação que gera renda para as famílias ribeirinhas. Marcas como a brasileira Osklen e a americana Piper & Skye passaram a utilizar o couro do peixe em acessórios de luxo, ressaltando o valor socioambiental envolvido.

Desigualdade na cadeia produtiva

Apesar do sucesso ambiental, a cadeia produtiva apresenta falhas que limitam o benefício financeiro para os manejadores. Conforme declarado por Pedro Canízio, vice-presidente da Federação dos Manejadores de Pirarucu de Mamirauá, os pescadores recebem cerca de R$ 11 por quilo do peixe inteiro, valor bem inferior ao preço final dos produtos de luxo. Ele afirma que raramente esses trabalhadores conseguem comprar um item produzido com a pele do próprio pirarucu.

Pesquisas de consultoras e organizações ligadas à cadeia produtiva indicam uma concentração do mercado nas mãos de poucos frigoríficos e curtumes, sendo que cerca de 95% das peles são negociadas por apenas sete dessas empresas, enquanto a maioria das comunidades recebe apenas pequena parcela do valor.

Além disso, a complexidade do processamento da pele, que demanda técnicas específicas e alto custo, impede que o beneficiamento ocorra próximo às comunidades, dificultando que os próprios pescadores agreguem valor ao produto e aumentem sua renda.

O papel da inovação e desafios da fiscalização

A empresa brasileira Nova Kaeru domina o mercado de couro de pirarucu, fornecendo para marcas internacionais de luxo, como Armani, Dolce & Gabbana e Givenchy. Ela desenvolveu técnicas inovadoras para aumentar a área do couro, tornando o material mais atraente para a indústria da moda.

Mesmo assim, a maior parte da produção é destinada à exportação para o mercado norte-americano no segmento country, sendo que o luxo representa menos de 5% da demanda. A empresa afirma que os preços pagos às comunidades são justos, mas críticos apontam falta de concorrência e atrasos nos pagamentos aos manejadores.

Outro desafio relevante é a fiscalização da pesca ilegal. O pirarucu é alvo frequente de contrabando, que gera prejuízos para a conservação e interfere na cadeia legal. Após o assassinato do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, em 2022, enquanto investigavam crimes ambientais relacionados à pesca ilegal, operações de combate à ilegalidade foram intensificadas, mas ainda há dificuldade em controlar toda a cadeia.

Conclusão

O manejo sustentável do pirarucu constitui uma importante estratégia para a conservação da Amazônia e geração de renda para comunidades tradicionais. No entanto, a cadeia produtiva do couro do peixe permanece marcada por desigualdades que impedem a justa remuneração dos pescadores e manejadores, dificultando o desenvolvimento local.

Para que os benefícios socioambientais sejam realmente aproveitados por todos os elos da cadeia, é necessário investir em políticas públicas, tecnologias para processamento local e fiscalização rigorosa. Somente assim essa atividade poderá ser modelo de sustentabilidade econômica e ambiental, promovendo justiça social e conservação da biodiversidade amazônica.

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Fonte: g1.globo.com

Written By
Vitor Souza

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