O mercado financeiro global discute o risco de

O mercado financeiro global discute o risco de uma bolha nas ações de inteligência artificial (IA) impulsionadas pelas big techs americanas, diante da valorização acelerada dessas empresas nos últimos anos. Pesquisas indicam que, apesar do crescimento, parte dos investidores teme uma possível correção devido ao elevado volume de investimentos e à ampliação do número de investidores no setor.

Segundo uma pesquisa do Bank of America, 54% dos gestores financeiros acreditam que as principais empresas de tecnologia, conhecidas como “Sete Magníficas” — Alphabet, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla — estão sobrevalorizadas, indicativo de um mercado lotado. Apesar disso, 45% dos consultados avaliam que a probabilidade de uma bolha de IA se formar ainda é baixa, enquanto 53% afirmam que o setor já se encontra em uma bolha.

O aumento no número de investidores e o volume significativo de recursos destinados à expansão dessas companhias têm alimentado o receio de uma valorização excessiva. A pesquisa do BofA destaca que, pela primeira vez em duas décadas, há a percepção de que essas empresas estão investindo demais em capex — gastos em infraestrutura como data centers, equipamentos e chips ligados à IA —, o que pode tornar suas valorizações mais vulneráveis a correções se os resultados financeiros ficarem abaixo do esperado.

Além dessas preocupações, há dúvidas sobre a capacidade de suprimento energético suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento dessas empresas, o que adiciona uma camada de incerteza ao cenário. Essas preocupações já refletem no mercado acionário: as “Sete Magníficas” perderam cerca de US$ 1,7 trilhão em valor de mercado em menos de um mês, caindo de US$ 22,24 trilhões em 29 de outubro para US$ 20,49 trilhões em 20 de novembro.

Apesar das perdas recentes, essas empresas mantêm uma trajetória de crescimento sólida no longo prazo. O desafio está em avaliar a sustentabilidade desses ganhos diante de múltiplos elevados, que indicam uma relação preço/lucro alta das ações. Maria Irene Jordão, estrategista global da XP, ressalta que os múltiplos devem ser ajustados para avaliar corretamente se o preço está justo, lembrando que é comum ações ficarem mais caras durante períodos de expansão acelerada.

Jordão destaca ainda a necessidade de diferenciar as empresas do setor. Enquanto algumas, como a Nvidia, apresentam crescimento consistente, outras companhias ligadas à IA ainda não demonstram lucro e dependem de expectativas futuras para justificar suas valorizações.

O economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, considera prematuro afirmar que o setor vive uma bolha atualmente. Ele ressalta, porém, que o mercado está atento a dados econômicos e financeiros que podem influenciar a percepção de risco, e destaca que bolhas anteriores, como a da internet nos anos 1990 e a do mercado imobiliário nos anos 2000, tiveram fases longas de valorização antes do colapso.

Para investidores interessados em tecnologia, a recomendação é manter cautela e buscar empresas que entreguem valor real e estejam bem posicionadas no mercado, segundo Jordão. Ela explica que a IA ainda está na fase de infraestrutura, associada à construção das bases físicas e tecnológicas necessárias para seu funcionamento, o que pode beneficiar empresas desse segmento.

A estrategista enfatiza que o mercado de IA é volátil e sujeito a correções naturais, reforçando a importância da diversificação e de compreender que o setor está apenas no início de um ciclo longo.

*Colaborou Raphael Martins

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Fonte: g1.globo.com