O álbum “Lux”, lançado pela cantora espanhola Rosalía

O álbum “Lux”, lançado pela cantora espanhola Rosalía no início de novembro, foi analisado por músicos da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) para entender como a obra se aproxima e se afasta da música clássica. A avaliação apontou que, apesar da inspiração erudita, o disco mantém características do pop, apresentando uma produção altamente processada.

No álbum, Rosalía conta com a colaboração de nomes ligados à música clássica, como o maestro islandês Daníel Bjarnason e a compositora americana Caroline Shaw. Membros da Osesp elogiaram a criatividade e a complexidade das composições, especialmente o arranjo de cordas da faixa “Relíquia”. Entretanto, destacaram que o trabalho apresenta um som muito trabalhado em estúdio, com utilização de efeitos e edições que afastam a execução de uma apresentação clássica tradicional. Segundo Romeu Rabelo, contrafagotista da orquestra, o disco pode ter sido produzido com instrumentos eletrônicos, e a música erudita funciona mais como um elemento ornamental dentro de uma obra pop.

A reprodução ao vivo das músicas do “Lux” enfrenta desafios devido à complexidade e ao processamento do som. Ao contrário dos concertos clássicos, em que a orquestra toca 100% ao vivo e sem amplificação, o trabalho de Rosalía envolve ajustes digitais que dificultam uma apresentação inteiramente ao vivo. Regiane Martinez, soprano da Osesp, afirmou que efeitos na voz e possibilidades de aceleração digital do instrumental podem resultar em diferenças significativas durante shows. Além disso, a virtuosidade das peças pode exigir músicos altamente capacitados e uma preparação vocal rigorosa para performances ao vivo.

A interpretação vocal de Rosalía também recebeu destaque dos músicos. Embora a cantora utilize alguns recursos do canto lírico, seu estilo não se enquadra integralmente nessa técnica. A amplificação característica da música pop permite que ela insira traços próprios, mas, conforme a soprano Regiane Martinez, se aplicada em uma sala de concerto sem microfones, a voz não teria a mesma projeção necessária para o canto clássico.

O álbum traz uma diversidade linguística significativa, com faixas em 13 idiomas, incluindo catalão, árabe, ucraniano, italiano e português. Essa escolha dialoga diretamente com as referências culturais e musicais presentes no projeto. Por exemplo, a canção “Berghain” incorpora alemão e se inspira em Hildegard von Bingen, monja beneditina alemã. A faixa “Mio Cristo Piange Diamanti” é cantada em italiano e remete à tradição da ópera do século XVII, fortalecendo a conexão com formas artísticas clássicas. Para os músicos da Osesp, essa diversidade linguística também é um reconhecimento ao universo erudito, no qual é comum apresentar obras em idiomas variados.

No videoclipe da música “Berghain”, lançado em outubro, a orquestra que acompanha Rosalía aparece tocando instrumentos em ambientes pouco convencionais, como um ônibus e um hospital. Os músicos da Osesp notaram que as cenas não mostram uma execução real dos instrumentos, o que é perceptível para profissionais pela postura e pela técnica exigidas para tocar. A situação reforça o caráter artístico e simbólico do vídeo, e a impossibilidade prática de uma orquestra atuar em locais com espaço limitado.

Em resumo, “Lux” de Rosalía é um álbum que transita entre o pop e a música clássica, incorporando elementos eruditos em sua composição e produção, mas mantendo uma forte orientação para a música pop contemporânea. A obra utiliza referências e recursos da música clássica, porém com processamento digital e características que dificultam uma reprodução tradicional ao vivo, destacando-se pela inovação e complexidade dentro do cenário musical atual.

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Fonte: g1.globo.com