O documentário “Ary”, dirigido por André Weller e

O documentário “Ary”, dirigido por André Weller e exibido na 27ª edição do Festival do Rio, apresenta a vida do compositor Ary Barroso de forma fria e pouco precisa na difusão da obra do artista. Estreado em 5 de outubro e com sessões programadas para 9 e 11 de outubro na mostra Retratos, o filme tenta reconstruir a trajetória do músico mineiro que marcou a música brasileira entre as décadas de 1930 e 1950.
Ao invés de priorizar a documentação rigorosa, o diretor opta por uma encenação que mistura recursos sonoros e visuais. A abertura do filme retrata a morte dos pais de Barroso em formato de novela de rádio, com atores interpretando os personagens. Durante os 70 minutos, a voz do ator Lima Duarte narra textos escritos em primeira pessoa pelo compositor, acompanhada por imagens novas e de arquivo que tentam evocar a atmosfera do Rio de Janeiro da época.
A escolha estética busca inovar a estrutura comum dos documentários biográficos musicais, especialmente diante da dificuldade de acesso a depoimentos de pessoas próximas ao músico, falecido há mais de seis décadas. Apesar disso, o uso constante da narração em voz off e a encenação espalham um ritmo lento que prejudica a dinâmica da narrativa.
O filme traz imagens raras e uma seleção de gravações valiosa, incluindo a emblemática “Aquarela do Brasil” (1939), tema que permeia a trilha sonora do documentário em diferentes versões. Também são exibidos registros da cantora Carmen Miranda, grande intérprete de Ary Barroso nos Estados Unidos, cuja voz dá vida a sambas menos conhecidos, como “Batuca nega” (1942) na interpretação do grupo Quatro Ases e um Coringa.
Por outro lado, a reconstituição do programa “Calouros em desfile”, apresentado por Ary na era do rádio, revela-se artificial e evidencia as fragilidades do filme enquanto documento histórico. A frequente narração em off transforma a experiência visual em algo que se assemelha a um audiolivro, reduzindo a ligação emocional do espectador com o conteúdo.
Embora a tentativa de romper com convenções seja reconhecida, “Ary” deixa a impressão de que o compositor merece uma obra que contextualize melhor a magnitude e a influência de sua produção musical. O documentário carece de emoção e de um aprofundamento mais crítico sobre a personalidade e o legado de Ary Barroso.
Produzido pelas Napressão Produções e Gibraltar Filmes, o filme expõe a importância do artista, mas não supera as limitações que o distanciam do público e da história que ele ajudou a construir. O resultado é uma obra que informa, mas que não emociona nem esclarece completamente a complexidade de um dos nomes centrais da música brasileira.
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Fonte: g1.globo.com
Imagem: s2-g1.glbimg.com
Fonte: g1.globo.com