O diretor Jafar Panahi explicou a cena final

O diretor Jafar Panahi explicou a cena final de seu filme “Foi apenas um acidente” em entrevista ao g1, pouco depois da estreia da obra no Brasil, na última quinta-feira (4). O filme, que venceu a Palma de Ouro em Cannes, traz um desfecho aberto que, segundo o cineasta, pode ser interpretado como uma reflexão interna do protagonista ou uma possível continuação do ciclo de violência.

Panahi afirmou que o som que aparece no fim da narrativa talvez nem seja realidade, mas sim um pensamento que permanece no protagonista há cinco anos. Ele ressaltou que o momento final serve como um alerta para o personagem despertar para mudanças e que a ajuda oferecida à mulher pode indicar esperança para o futuro.

No filme, o personagem principal, vivido por Vahid Mobasseri, passa grande parte da trama preso em sua van com um desconhecido, tentando confirmar se ele é o policial que o torturou durante sua prisão pelo regime iraniano. O encerramento mostra o protagonista voltando para casa enquanto sons de passos mecânicos se tornam mais intensos, deixando em aberto se a violência continuará.

Panahi comentou que a interpretação final fica a cargo do espectador, apontando que a possibilidade da retomada do ciclo de violência está diretamente ligada à percepção de quem assiste. O roteiro do longa se inspira na própria experiência do diretor, que já esteve preso sob o regime iraniano.

O filme foi rodado de forma clandestina no Irã, sem autorização da censura local. A premiação da Palma de Ouro, em maio, catapultou a produção ao cenário internacional, com projeções para indicações em prêmios como o Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026, concorrendo com outras obras, entre elas o brasileiro “O agente secreto”.

Panahi enfrenta restrições do governo iraniano há anos e foi condenado a um ano de prisão no começo de dezembro por “propaganda” contra as autoridades do país. Por isso, o filme representa a França na corrida pelo Oscar, pois sua exibição oficial no Irã é inviável.

“Foi apenas um acidente” está disponível nos cinemas brasileiros desde o dia 4 de janeiro, permitindo que o público brasileiro acompanhe a obra que mistura elementos autobiográficos e crítica social. O desfecho do filme permanece aberto à interpretação, alimentando debates sobre memória, trauma e justiça.

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Fonte: g1.globo.com