Psicólogos brasileiros têm integrado ferramentas de inteligê

Psicólogos brasileiros têm integrado ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa em suas atividades profissionais, utilizando recursos para transcrição de sessões, elaboração de relatórios e sugestões de abordagem terapêutica. A prática, que ocorre desde 2023, acontece principalmente em consultórios e estudos acadêmicos, com o objetivo de otimizar o trabalho e apoiar o raciocínio clínico, embora levante questões éticas e legais.
Empresas como PsicoAI e PsiDigital oferecem plataformas que automatizam tarefas burocráticas, como criação de prontuários e laudos, além de fornecerem sugestões baseadas em autores clássicos da psicologia. Esses serviços afirmam que a IA não substitui o terapeuta, mas complementa o atendimento.
Uma pesquisa da BBC News Brasil mostrou que, entre 50 psicólogos consultados nas redes sociais, dez utilizam IA para transcrever sessões e gerar resumos. O Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece o uso crescente dessas ferramentas e orienta que cada profissional avalie os limites e riscos, destacando a necessidade de supervisão crítica e ética.
A psicóloga Maísa Brum adotou um gravador com tecnologia de IA que transcreve entrevistas e organiza informações para a elaboração de laudos técnicos, sempre com o consentimento formal dos pacientes. Ela alerta que o recurso serve apenas como apoio e reforça a importância do pensamento crítico do terapeuta.
Já o psicólogo e professor Eduardo Araújo utiliza IA para análise de dados em pesquisas acadêmicas, afirmando sua utilidade na organização e interpretação de grandes volumes de informações, mas reforça a cautela em relação a diagnósticos confeccionados pela tecnologia.
Para a psicóloga Patrícia Mourão De Biase, a IA tem impulsionado mudanças no campo da psicologia, sobretudo na automatização de tarefas e na criação de conteúdos para as sessões. Ela destaca a necessidade de compreensão e adaptação dos profissionais, afirmando que a ferramenta não substitui o terapeuta, mas pode otimizar o trabalho.
O psiquiatra Rodrigo Martins Leite, do Centro de Saúde da Comunidade da Unicamp, considera o uso da IA uma realidade ainda pouco debatida. Ele aponta riscos ligados à confidencialidade dos dados e à falsa sensação de segurança que respostas rápidas podem gerar em contextos terapêuticos, onde a incerteza e o tempo para elaboração são essenciais.
Leite enfatiza que a formação do profissional envolve supervisão humana e troca de experiências, aspectos insubstituíveis pela inteligência artificial. Ele recomenda que o uso de IA nas terapias ocorra com consentimento explícito dos pacientes e sob responsabilidade ética rigorosa.
O engenheiro Gustavo Landgraf criou a plataforma PsiDigital após identificar a dificuldade dos terapeutas em conciliar a escuta atenta aos pacientes com a elaboração manual de anotações. O sistema capta e resume conteúdos das sessões, gerando relatórios estruturados, com a promessa de não armazenar gravações e proteger os dados por criptografia.
Landgraf ressalta que o sistema não guarda transcrições ou gravações e aconselha os profissionais a obterem o consentimento dos pacientes para o uso da tecnologia. Ele destaca que a ferramenta visa potencializar o tratamento, organizando informações, mas que não substitui o terapeuta, pois não captura aspectos como expressões faciais ou linguagem corporal.
O Conselho Federal de Psicologia mantém orientações para que os profissionais assumam plena responsabilidade pelo uso de IA. Carolina Roseiro, conselheira do CFP, afirma que a mediação humana é indispensável devido às limitações técnicas e éticas da tecnologia e reforça que o uso por parte do público em geral não é recomendado sem supervisão profissional.
Roseiro lembra que o consentimento informado deve abranger não apenas a gravação das sessões, mas todo uso de IA durante o atendimento, a fim de garantir sigilo e evitar possíveis violações éticas. O CFP prepara cartilhas para profissionais e para o público, com orientações sobre o tema.
O uso da inteligência artificial na psicologia apresenta avanços na organização e suporte para o terapeuta, mas exige cautela na preservação do papel humano no processo, respeito à ética profissional, proteção dos dados dos pacientes e supervisão adequada. O debate sobre regulamentação e limites do uso da IA no campo terapêutico segue em evolução.
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Palavras-chave relacionadas: inteligência artificial, psicologia, terapia, transcrição de sessões, ética profissional, Conselho Federal de Psicologia, consentimento informado, PsiDigital, PsicoAI, supervisão clínica.
Fonte: g1.globo.com
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Fonte: g1.globo.com