Vídeo manipulado por inteligência artificial associa ministr

Circula desde 27 de fevereiro de 2024 um vídeo manipulado com inteligência artificial que mostra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, afirmando que aprovará anistia para o ex-presidente Jair Bolsonaro. A declaração atribuída a Fux é falsa.

O vídeo foi publicado no TikTok e atingiu mais de 54,2 mil visualizações. Na gravação, o ministro teria dito: “Eu vou aprovar a anistia para o Bolsonaro. Ele não pode ser acusado de algo que ele não fez”, frase que jamais foi proferida por ele.

A assessoria do STF negou a veracidade do conteúdo. Segundo nota enviada ao g1, “a informação não é procedente”. Luiz Fux não fez qualquer comentário sobre a aprovação de anistia a Bolsonaro, tampouco manifestou suporte a tal medida.

Especialistas explicam que a anistia é uma atribuição exclusiva do Congresso Nacional. O artigo 48, inciso VIII, da Constituição estabelece que cabe ao Legislativo decidir sobre a renúncia do poder punitivo do Estado, o que impede o Judiciário de aprovar ou conceder anistia.

A análise do vídeo por duas plataformas de detecção de manipulação digital e conteúdos gerados por inteligência artificial indicou alta probabilidade de adulteração. A ferramenta Hive Moderation apontou 70% de chance de manipulação, enquanto a DecopyAI sinalizou 100% de probabilidade, destacando características como alisamento artificial da pele e sombras inconsistentes.

Para identificar a origem do material usado na manipulação, foi feita uma busca reversa de frames no Google Lens. O conteúdo original corresponde a uma entrevista concedida por Luiz Fux ao portal Migalhas em 4 de novembro de 2024, na Universidade de Málaga, Espanha, na qual ele discute insegurança jurídica no Brasil, sem mencionar anistia.

No julgamento realizado em setembro de 2024, Luiz Fux foi o único membro da Primeira Turma do STF a votar pela absolvição de Bolsonaro nos cinco crimes de que ele era acusado. Logo após, parlamentares da oposição passaram a usar o voto como argumento para avançar o Projeto de Lei da Anistia no Congresso.

Em 17 de setembro, a Câmara dos Deputados aprovou a urgência na tramitação do projeto, permitindo a votação diretamente em plenário. No entanto, até o momento, o presidente da Câmara, Hugo Motta, não pautou a votação.

A viralização do vídeo editado aconteceu um dia após a determinação do ministro Alexandre de Moraes para que Bolsonaro começasse a cumprir pena, após ser condenado a 27 anos e três meses de prisão pelo caso da trama golpista. O ex-presidente estava recluso na sede da Polícia Federal em Brasília depois de violar a tornozeleira eletrônica que usava.

A disseminação de notícias falsas envolvendo figuras públicas e decisões judiciais reforça a necessidade de verificação rigorosa dos conteúdos antes de compartilhamento, especialmente diante do uso crescente de tecnologias de manipulação, como a inteligência artificial.

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Fonte: g1.globo.com