Quem começa a ver “Wicked” (2024) quase acredita

Quem começa a ver “Wicked” (2024) quase acredita que a história é leve e divertida. Entre números musicais, mágica e piadinhas, é só no final que a fantasia se quebra, encerrando em tom sombrio e dramático.

“Wicked: Parte 2″ parte dessa virada, e daí pra frente, as emoções ficam à flor da pele. O filme, que encerra a saga de Glinda e Elphaba, estreia nesta quinta (20) nos cinemas brasileiros. E é dos poucos casos em que dividir uma trama original (neste caso, um espetáculo musical) foi bom não só para os negócios: foi melhor pra história mesmo.

Mais tempo e explicação

No fim de “Wicked”, descobrimos que, na verdade, o Mágico de Oz é um tirano farsante e a heroína Elphaba (Cynthia Erivo) é injustiçada. Ela decide fugir e deixa sua melhor amiga Glinda (Ariana Grande) pra trás. Também é assim que acaba o primeiro ato da peça musical.

No teatro, há um intervalo (“intermissão”) entre as duas histórias. É a hora de dar uma volta, ir ao banheiro e limpar a mente. No caso dos filmes, essa intermissão levou cerca de um ano, o que dá um respiro pra gente como audiência.

Nesta parte, o universo se expande em vários arcos dramáticos e novos cenários. Também é aqui que vemos outro lado da história de Dorothy, o Homem de Lata, o Espantalho e o Leão Covarde, de “O Mágico de Oz”.

Elphaba (Cynthia Erivo) e Glinda (Ariana Grande) em ‘Wicked: Parte 2’

Divulgação

Mas como qualquer fã da peça pode te dizer, o segundo ato é um pouco caótico e não tem a construção do primeiro. Por isso, “Wicked: Parte 2” acerta ao dividir a história e explorar a segunda parte no detalhe. Claro, ajudou a ter mais chances de prêmios, mais bilheteria e tudo o mais. Mas foi bom criativamente também.

Graças ao tempo extra de tela e à ajuda dos mil recursos que o cinema permite, a história — que já era emotiva — ganha corpo nesta parte.

A divisão também ajuda na mudança de tom, dando até mais tempo para que o público do primeiro esteja mais velho para esta parte. Em “Wicked: Parte 2”, a trama fica mais delicada, com dilemas morais e mortes. Em outras palavras, é aqui que a história fica adulta.

Entre o bem e o mal

Prova de que “Wicked” tem uma história interessante em mãos é que não é fácil explicar quem é bom e quem é mau. Esse é o fio condutor da segunda parte: em algum ponto, todos os personagens se veem na linha tênue entre bondade e maldade.

A trajetória de Glinda, “a Boa”, é a mais simbólica nesse sentido. Ela é a nova “garota-propaganda” de Oz e está prestes a se casar com o príncipe Fiyero (Jonathan Bailey). Na teoria, vive tudo que sempre sonhou, mas isso envolve promover uma mentira: a de que Elphaba, sua melhor amiga, é a “Bruxa Má do Oeste”.

Ariana Grande brilha nessa transição. Com uma personagem mais contraditória, ela traz humanidade e vulnerabilidade para o papel. Se ela já foi indicada ao Oscar pelo primeiro filme, a indicação neste é praticamente garantida (alguns veículos internacionais apostam até na vitória).

Talvez a artista tenha trazido sua própria carga pessoal para Glinda. Ambas são figuras públicas, lidando com suas próprias contradições e sonhos. E toda essa emoção é nítida na tela — inclusive quando ela está sozinha em cena.

Glinda (Ariana Grande) e Fiyero (Jonathan Bailey) em ‘Wicked: Parte 2’

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Cynthia Erivo não é menos impressionante. Graças à atuação calorosa dela, Elphaba demonstra doçura, raiva, amor e solidão. E é essencial pra que a gente preserve o carinho pela personagem, mesmo em suas escolhas mais ambíguas. A cena de “No Good Deed”, grande música dela neste filme, é de arrepiar.

As protagonistas não deixam dúvidas de que um musical como esse precisa de grandes vocalistas. No primeiro, elas precisavam ter timing cômico e química pra conduzir a história; desta vez, trazem uma baita carga emocional, não só nas falas, como nas músicas.

Além delas, vale dizer que Boq (Ethan Slater) e Nessarose (Marissa Bode) também ganham com esta adaptação, e os atores têm mais espaço pra trabalhar. O arco da irmã de Elphaba, em especial, chega mais redondo na versão cinematográfica. Isso ajuda muito a sentir o que a trama pede.

O que não funciona

Os dois filmes “Wicked” são muito fiéis aos textos da peça, mas nem tudo funciona na telona. É o caso da “briguinha” entre Elphaba e Glinda, que no cinema fica meio boba para o momento dramático do filme. Mas serve para aliviar um pouco a tensão.

A parte dois também não ganhou muito com as novas músicas, “No Place Like Home”, de Elphaba, e “A Girl In The Bubble”, de Glinda. Não dá pra saber se é uma tentativa de ganhar um Oscar de Melhor Canção Original, ou de dar a esta parte mais músicas marcantes (já que a primeira tem algumas das melhores).

Glinda (Ariana Grande) e Elphaba (Cynthia Erivo) em ‘Wicked: Parte 2’

Divulgação

Seja como for, as duas tentativas podem acabar saindo frustradas, já que as músicas não são tão fortes quanto as originais. A canção de Glinda é bela, mas desacelera o filme em um momento importante, enquanto a de Elphaba não agrega tanto — ainda que “No Place Like Home”, que fala sobre ser rejeitada em sua própria terra, tenha um valor especial no atual contexto político dos EUA.

O filme perde um pouco de ritmo com essas e outras cenas extras. Parece que é um risco que os roteiristas preferiram correr: antes pecar pelo excesso que pela falta de explicação.

Final digno do tamanho de ‘Wicked’

Com quase duas horas e meia de duração, “Wicked: Parte 2” vai encantar os fãs da peça, enquanto pode ser cansativo para quem não conhece a história original. Mas é, sem dúvidas, um belo fim para a saga.

Da icônica “For Good” até a tocante cena final, a ideia aqui é emocionar, fazer você pensar em amigos e família (se puder assistir com eles, melhor ainda). Dá certo: até na cabine de imprensa, tinha gente fungando no fim.

Ao todo, a adaptação eleva o nível da peça da Broadway, expandindo o universo e aprofundando a história. Finalmente, fãs de “Wicked” podem respirar aliviados: os filmes não estragaram nada — muito pelo contrário, só deixaram tudo mais grandioso.

Fonte: g1.globo.com


Fonte: g1.globo.com

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