O livro *Eu queria ser Cássia Eller – Uma biografia*, escrito pelo jornalista Tom Cardoso e lançado em 2024 pela editora Harper Collins, apresenta uma narrativa fluente, porém superficial, sobre a vida da cantora Cássia Eller (1962-2001). A obra tenta traçar um perfil da artista, mas deixa a sensação de incompletude diante da complexidade da personalidade e carreira da cantora.
Ao longo das 304 páginas, o texto foca na trajetória de resistência de Cássia Eller contra padrões da indústria musical e sua luta para manter liberdade e independência artística. A biografia é organizada em ordem cronológica, começando a partir dos oito anos de idade da cantora, e destaca as dificuldades enfrentadas por ela para se impor no meio musical.
Cássia é retratada como um ser humano recuado, que se sentia mais à vontade fora dos holofotes, especialmente na intimidade com a companheira e o filho, Francisco Ribeiro Eller, conhecido como Chico Chico. A relação distante com o showbiz e a rejeição a códigos sociais são temas recorrentes no livro.
O autor baseia-se em entrevistas com pessoas próximas à cantora, como a viúva Maria Eugenia Vieira Martins, o empresário Felipe Casqueira, o guitarrista Walter Villaça e a diretora artística da MTV na época do álbum *Acústico MTV*. Também utiliza reportagens já publicadas na imprensa. No entanto, o trabalho não apresenta investigação aprofundada que revele todas as nuances da trajetória de Cássia.
O livro apresenta algumas histórias dos bastidores da carreira da cantora, como as pressões para a gravação da música *Palavras ao vento* e a resistência de Cássia em interpretá-la ao vivo. Outro ponto abordado é a relação conflituosa da artista com empresários e diretores de gravadoras, que muitas vezes impactaram sua liberdade criativa.
A trajetória profissional de Cássia é marcada pela intransigência na escolha do repertório e pela defesa de sua identidade artística, mesmo diante de imposições da gravadora Polygram. O livro também menciona o apoio do executivo Mayrton Bahia, que permitiu que Cássia mantivesse seu estilo nos dois primeiros álbuns.
A biografia destaca ainda as dificuldades pessoais da cantora, incluindo a luta contra o uso de álcool e drogas, principalmente após o nascimento do filho. Apesar da relevância dessa dimensão, a obra oferece poucas reflexões mais profundas sobre esses aspectos.
A narrativa enfatiza o caráter resistente de Cássia e sua postura avessa ao estrelato convencional, citando episódios que evidenciam seu comportamento não convencional, como a anedota envolvendo o guitarrista Keith Richards.
Embora o texto seja redigido com clareza e objetividade jornalística, evitando sensacionalismo e exibindo ritmo agradável, o conteúdo é limitado em profundidade e não desvela por completo as complexidades da artista multiforme mencionadas por Nando Reis na contracapa do livro.
Além do livro, a obra literária integra um conjunto de produções recentes que mantêm viva a memória de Cássia Eller, incluindo lançamentos póstumos de discos, um documentário e a cinebiografia dirigida por Diego Freitas em processo de produção.
Em suma, *Eu queria ser Cássia Eller – Uma biografia* contribui para ampliar o conhecimento sobre a cantora, mas deixa lacunas importantes e não explora todas as camadas que compõem a vida e carreira da artista. A obra reafirma a ideia de que a complexidade de Cássia Eller ainda exige estudos mais profundos para ser plenamente compreendida.
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Palavras-chave relacionadas: Cássia Eller, biografia, Tom Cardoso, música brasileira, indústria fonográfica, independência artística, Harper Collins, Acústico MTV, Chico Chico, livreto musical.
Fonte: g1.globo.com
Fonte: g1.globo.com

