Pela primeira vez em 35 anos, nenhuma música

Pela primeira vez em 35 anos, nenhuma música de rap está entre as 40 mais ouvidas da Billboard Hot 100, segundo dados da última semana, evidenciando uma possível crise no gênero. Essa ausência ocorre em um cenário de esvaziamento criativo e despolitização do rap, que até então era reconhecido pela inovação e posicionamento político.
O rap entrou no top 40 da Billboard em 2 de fevereiro de 1990, com a música “Just a Friend”, de Biz Markie. A mais recente faixa de rap a figurar entre as 40 mais populares foi “Luther”, de Kendrick Lamar e SZA. O dado revela uma perda de interesse no rap mainstream, que passa por recorrente repetição de fórmulas e perda de conteúdo original.
Além da queda nas paradas, o gênero enfrenta críticas internas. Muitos artistas e fãs apontam a falta de engajamento político entre os músicos, enquanto cresce a influência de ideologias conservadoras em um movimento historicamente ligado ao progressismo e à contestação.
O hip hop nasceu nos anos 1970 como resposta das comunidades marginalizadas à violência estatal e desigualdade racial. Reunindo negros, latinos, asiáticos, mulheres e pessoas LGBTQIA+, o gênero se consolidou como forma de expressão cultural e política dessas populações.
Nas últimas décadas, a popularidade do rap aumentou devido a vertentes como trap e drill. Contudo, essa expansão misturou o estilo com a música pop, diluindo suas origens e suas mensagens políticas. Técnicas do rap, como os samples e as baterias 808, foram incorporadas por artistas de outros gêneros, afastando o hip hop das raízes originais.
A aproximação do rap com o pop também alterou o conteúdo das letras, que passaram a refletir mais uma estética de redes sociais do que uma manifestação das questões sociais vividas pelas comunidades periféricas. Essa desconexão é apontada como um dos primeiros sinais da crise atual.
Além disso, acontece um fenômeno de aproximação de rappers às narrativas conservadoras. Artistas que surgiram com postura de resistência, como Kanye West, passaram a apoiar figuras políticas controversas, como Donald Trump, e a criticar movimentos sociais contemporâneos. Outros nomes, como Ice Cube e Snoop Dogg, também adotaram discursos alinhados a agendas conservadoras.
Essa mudança é paradoxal, pois muitos desses artistas foram símbolos da luta contra a desigualdade e a opressão. A ascensão social e econômica de alguns levou à despolitização do rap mainstream, criando uma tensão entre o passado contestador e o presente com posições controversas.
Outro fator apontado para a crise do rap é o enfraquecimento de personalidades influentes. P. Diddy, um dos ícones do sucesso e do poder no hip hop nas décadas anteriores, enfrentou acusações de abuso sexual, tráfico humano e violência, que abalaram sua credibilidade e impacto no gênero.
Diddy, que ajudou a revelar nomes como Missy Elliott, Usher e The Notorious B.I.G., e atuou como mentor de Justin Bieber, viu sua reputação afetada, reacendendo antigas associações pejorativas ligadas ao hip hop como cultura marginalizada.
O quadro atual revela, portanto, mais do que um momento passageiro de queda na popularidade. A crise do rap reflete uma perda de identidade e coerência entre arte e política. Para muitos especialistas, a saída passa por uma reconexão com as origens do gênero, que une expressão cultural a lutas sociais, sem renunciar às transformações estéticas.
A retomada do hip hop como força política e cultural pode ser necessária para restaurar o espaço do gênero nas paradas e no debate público, recuperando sua função como megafone das comunidades periféricas e agentes de mudança.
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Fonte: g1.globo.com
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Fonte: g1.globo.com