O cantor e compositor Lô Borges morreu aos 73 anos

O cantor e compositor Lô Borges morreu aos 73 anos, na noite do domingo (2), em Belo Horizonte, onde estava internado desde meados de outubro por intoxicação medicamentosa. Ele foi um dos fundadores do Clube da Esquina, movimento musical que marcou a música popular brasileira.

Lô Borges ganhou destaque ainda jovem, aos 19 anos, ao participar do álbum coletivo “Clube da Esquina” (1971), ao lado de Milton Nascimento, Wagner Tiso e Toninho Horta. Inicialmente rejeitado pela gravadora EMI por ser muito novo, permaneceu no projeto graças a Milton, que ameaçou deixar o disco caso ele fosse excluído.

Após o sucesso do álbum, a EMI convidou Lô para gravar um disco solo, mesmo sem ele ter repertório pronto. O compositor criou as músicas em pouco tempo, contando com a ajuda do irmão Márcio Borges e de colaboradores do Clube da Esquina. O resultado foi o “Disco do Tênis” (1972), apelidado assim devido à foto de capa que mostrava um tênis gasto, simbolizando o esforço intenso para finalizar o trabalho.

O processo de criação do disco foi marcado por pressa e pressão da gravadora para apresentação do repertório e início das gravações. Lô e seu irmão dividiram a composição em turnos de 24 horas durante uma semana, produzindo canções que depois foram lapidadas em colaboração com músicos amigos. A abordagem remeteu ao estilo dos Beatles, grupo pelo qual Lô era fã, e que também produziam rapidamente sob pressão.

Ainda que envolvesse importantes músicos, como Danilo e Dori Caymmi, o disco não atingiu as expectativas comerciais da gravadora e foi rejeitado por Lô em várias décadas. Ele descreveu o álbum como caótico e experimental, associando-o à sensação de opressão vivida durante a ditadura militar.

Sem apoio da gravadora, o álbum não teve continuidade em investimentos e não repetiu o sucesso do Clube da Esquina. Lô decidiu se afastar do circuito comercial, afirmando que não queria ter sua carreira controlada pelos diretores da indústria fonográfica. Para ele, o tênis na capa simbolizava essa ruptura com o sistema.

Apesar do distanciamento inicial, o “Disco do Tênis” conquistou fãs ao longo do tempo e ultrapassou fronteiras. Em 2018, a banda britânica Arctic Monkeys cita o álbum como uma das principais influências para o seu trabalho, especialmente para o disco “Tranquility Base Hotel & Casino”. Alex Turner, vocalista do grupo, destacou a importância das músicas de Lô em sua inspiração.

Com o passar dos anos, Lô Borges revisitou o legado do disco. Ele autorizou a produção de um filme sobre o processo de criação do “Disco do Tênis”, que deve ser lançado em breve, trazendo uma nova perspectiva ao trabalho que quase o fez desistir da música.

Lô Borges deixa um legado significativo na música brasileira, com composições que seguem influenciando artistas no Brasil e no exterior. Seu trabalho no Clube da Esquina e no “Disco do Tênis” é reconhecido pelo impacto artístico e histórico que teve desde o início da década de 1970.

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Fonte: g1.globo.com