Um enviado do Kremlin propôs a construção de um túnel

Um enviado do Kremlin propôs a construção de um túnel ferroviário sob o Estreito de Bering para ligar a Rússia aos Estados Unidos, chamado “Putin-Trump”, com objetivo de impulsionar a exploração conjunta de recursos naturais e simbolizar a unidade entre os países. A sugestão foi apresentada na noite de quinta-feira, após uma conversa telefônica entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump, que concordaram em se reunir em Budapeste para discutir formas de encerrar a guerra na Ucrânia.

A proposta foi divulgada por Kirill Dmitriev, chefe do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RDIF), que coordena uma ofensiva diplomática para reaproximar Moscou e Washington. Ele destacou que o projeto de conexão física entre os dois continentes pelo Estreito de Bering é antigo, remontando aos planos da ferrovia Sibéria-Alasca em 1904 e a projetos russos de 2007. Dmitriev afirmou que o RDIF revisou diversas propostas, incluindo rotas que envolvem EUA, Canadá, Rússia e China, e pretende apoiar a opção mais viável.

O Estreito de Bering tem cerca de 82 km de largura no seu ponto mais estreito e separa a península russa de Chukotka do estado americano do Alasca. Entre as duas margens estão as ilhas Diomede, sendo uma pertencente à Rússia e outra aos EUA, distantes apenas 4 km uma da outra. A ideia de interligar os continentes já circula há pelo menos 150 anos e ganhou nova atenção após o anúncio da conversa entre os líderes.

Dmitriev manteve interlocução com Steve Witkoff, enviado especial do então presidente Trump, e sugeriu que grandes companhias americanas de energia participem dos projetos russos no Ártico, ampliando a cooperação comercial e estratégica entre os dois países. Ele também levantou a possibilidade de a construção do túnel ser realizada pela The Boring Company, empresa especializada em infraestrutura fundada por Elon Musk.

Segundo Dmitriev, o custo tradicional para uma obra desse porte ultrapassaria US$ 65 bilhões, mas a tecnologia aplicada pela The Boring Company poderia reduzir os gastos para cerca de US$ 8 bilhões. O dirigente do RDIF usou uma publicação na rede social X para direcionar a mensagem a Musk, convidando-o a colaborar no projeto. Até o momento, nem Elon Musk nem Donald Trump responderam publicamente à proposta.

Além da construção do túnel, o projeto demandaria investimentos significativos em infraestrutura nos dois lados do Estreito de Bering, especialmente porque a região russa de Chukotka possui poucas estradas e ferrovias. Dmitriev também recordou propostas similares feitas durante a Guerra Fria, entre elas o projeto da “Ponte da Paz Mundial Kennedy-Khrushchev”, que previa uma ligação sobre o Estreito de Bering. Ele compartilhou na rede social imagens do esboço histórico ao lado do mapa do novo túnel sugerido.

O RDIF já esteve envolvido na construção da primeira ponte ferroviária entre a Rússia e a China, o que Dmitriev usou para reforçar a viabilidade do novo empreendimento. Em sua declaração, ele afirmou que é tempo de avançar para conectar continentes pela primeira vez na história e de unir Rússia e Estados Unidos. A iniciativa também surge após Putin rebater declarações anteriores de Trump, que classificou a Rússia como um “tigre de papel”.

A proposta indica um movimento diplomático e econômico para aproximar as relações entre as duas potências, em meio a tensões políticas e o conflito na Ucrânia. A execução do túnel e dos projetos relacionados depende, porém, de decisões políticas complexas e da superação de desafios técnicos e financeiros.

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Fonte: g1.globo.com