Economia

O antropólogo Michel Alcoforado afirmou que a obsessão

O antropólogo Michel Alcoforado afirmou que a obsessão
  • Publishedoutubro 8, 2025

O antropólogo Michel Alcoforado afirmou que a obsessão dos brasileiros por ricos está ligada a uma “crença ilusória” na mobilidade social. Em sua pesquisa realizada ao longo de 15 anos, ele investigou a vida dos super-ricos brasileiros e as formas pelas quais a desigualdade social se mantém, revelando que a riqueza no país vai além da renda e patrimônio e também envolve performance e domínio de códigos culturais.

Alcoforado compartilhou uma experiência ocorrida em Genebra, na Suíça, onde aconselhou uma herdeira brasileira em conflito moral sobre pagar 15 mil euros para copiar o perfume usado por gerações de sua família. Ela decidiu fazer a compra, valorizando o resgate da tradição familiar em contraste com a realidade da miséria no Brasil, o que ilustra os muros simbólicos que separam as classes sociais no país. “Isso revela uma distância enorme, até no cheiro, não só no dinheiro”, afirmou.

O resultado desse estudo é o livro *Coisa de Rico: A Vida dos Endinheirados Brasileiros* (Todavia), que já vendeu mais de 37 mil exemplares em dois meses e está na sétima tiragem. Segundo o antropólogo, o fascínio que os brasileiros sentem pelos ricos vem da expectativa de que todos possam um dia alcançar riqueza, mesmo que essa mobilidade social seja mais uma ilusão do que uma realidade.

Graduado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e fundador da consultoria Consumoteca, Alcoforado explica que a riqueza no Brasil não pode ser definida apenas por números financeiros. O pertencimento à elite envolve uma “performance” que inclui comportamentos, linguagem e modos de se inserir em determinados ambientes. Diferentemente dos Estados Unidos, onde a riqueza está associada à construção de um império e ao mérito individual, a elite brasileira busca naturalizar sua posição de poder, apresentando-se como vencedora “desde sempre”.

Na entrevista, ele destacou que seu trabalho revela como as desigualdades brasileiras são constantemente mantidas pelas próprias elites, que agem para preservar essas posições. Alcoforado explicou também o processo para se infiltrar nesse universo, que incluiu aprender a atuar de acordo com os códigos sociais dos ricos, ganhando sua confiança por meio do reconhecimento do seu conhecimento sobre esse meio.

Relatou ainda situações que mostram a distância e a diferenciação entre as classes, como jantares em que o rico define o que o convidado comerá ou beberá, demonstrando um “poder sutil” que molda as relações. Esse tipo de comportamento, segundo ele, contribui para o reforço constante dos muros que separam as classes.

No campo antropológico, o pesquisador também falou sobre a experiência de ser um homem negro nesse meio. Ele avaliou que o racismo enfrentado nas elites é semelhante ao encontrado na sociedade brasileira em geral, e que a ausência de negros entre os super-ricos entrevistados é um reflexo desse padrão estrutural. Alcoforado reconhece que a transformação visual que adotou para a pesquisa não eliminou sua condição racial diante dos interlocutores.

Para definir quem é rico no Brasil, ele propõe uma visão que ultrapassa os critérios tradicionais de renda e patrimônio. Alguém que tenha uma vida com acesso a escolas particulares, planos de saúde, viagens internacionais e consumo frequente de bens de alto luxo, mesmo sem os extremos de mansões ou helicópteros, deve ser considerado rico dentro do contexto brasileiro devido à desigualdade social.

Sobre as classificações como “novo rico” ou “rico tradicional”, o antropólogo destacou que essas categorias existem para marcar diferenças dentro da elite, num processo natural de disputa simbólica. Porém, alertou que a sociedade brasileira só alcançará maior harmonia quando aceitar que diferentes grupos possam conviver com menos barreiras e mais encontros.

Alcoforado afirmou que as pessoas retratadas em seu livro se identificaram com as histórias, pois o enfoque é social, não pessoal. Ele avalia que o livro contribui para compreender um modelo de sociedade que reproduz desigualdades históricas, destacando a responsabilidade coletiva para promover transformações.

**Palavras-chave:** desigualdade social, elite brasileira, mobilidade social, Michel Alcoforado, antropologia, riqueza no Brasil, classes sociais, patrimônio, performance social, livro Coisa de Rico

Fonte: g1.globo.com

Imagem: s2-g1.glbimg.com


Fonte: g1.globo.com

Written By
Caio Marcio

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