O documentário “Vou tirar você desse lugar”, dirigido

O documentário “Vou tirar você desse lugar”, dirigido por Dandara Ferreira, estreia na 27ª edição do Festival do Rio entre os dias 6 e 8 de outubro para discutir o legado do cantor e compositor Odair José na música brasileira. O filme acompanha a trajetória do artista goiano, que superou rejeições e controvérsias desde os anos 1970 para manter sua relevância cultural.

Odair José, atualmente com 77 anos, relembra no documentário momentos decisivos, como o episódio em 1977 quando, em crise e afastado do sucesso, pensou em suicídio na ponte Rio-Niterói. A narrativa inclui entrevistas com o próprio cantor e depoimentos de artistas como Marisa Orth, Otto e Paulo Miklos, que ressaltam a importância da obra de Odair para a música popular.

No entanto, o filme evita críticas mais profundas e opta por uma abordagem bastante elogiosa ao artista, sem apresentar visões contrárias ao reconhecimento do trabalho do cantor. O roteiro assinado por Dandara Ferreira e Cris Lobo destaca a carreira que começou em 1970, quando Odair chegou ao Rio de Janeiro vindo de Morrinhos, Goiás, e enfrentou resistência do meio artístico e da crítica.

A rejeição se manifestou, por exemplo, durante o Phono 73, evento da gravadora Philips, quando Odair foi vaiado enquanto dividia o palco com Caetano Veloso. O documentário sugere que tais episódios deixaram marcas duradouras e refletem o preconceito contra o gênero e o estilo do cantor, rotulado como “cafona” e “brega” ao longo das décadas.

Apesar da queda após o fracasso do álbum “O filho de José e Maria” (1977), Odair José manteve a carreira ativa, sempre fiel ao seu estilo e abordagens, como o tratamento franco de temas como sexo, anticoncepcionais e divórcio, lidos de forma simples e direta. O cantor destaca no filme sua postura artística e rejeita a repetição de fórmulas, afirmando que faz música para si e para o público.

A faixa que dá nome ao documentário, “Vou tirar você desse lugar” (1972), foi também tema de um álbum tributo lançado em 2005, que ajudou a renovar o interesse sobre a obra de Odair José. A produção do filme inclui números musicais gravados especialmente para a obra, com produção musical de Kassin.

O filme oferece um panorama da importância de Odair José no cenário musical brasileiro, ainda que não esgote o debate sobre seu lugar na cultura popular. Ele destaca tanto os conflitos enfrentados quanto a inserção do cantor em um espaço de destaque, mostrando a trajetória de um artista que desafiou preconceitos e sobreviveu a diferentes fases do mercado fonográfico.

A 27ª edição do Festival do Rio traz o documentário como uma oportunidade para reavaliar uma figura que transitou entre o sucesso e a marginalização, reafirmando sua influência na música popular brasileira. As sessões programadas para os primeiros dias de outubro devem alcançar um público interessado em revisitar e compreender as complexidades da carreira de Odair José.

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Fonte: g1.globo.com