Donald Trump inaugurou, segundo o economista Branko Milanovi

Donald Trump inaugurou, segundo o economista Branko Milanovic, um modelo de “neoliberalismo de mercado nacional” nos Estados Unidos ao combinar políticas econômicas liberais internas com protecionismo externo. Essa configuração tem impacto na redistribuição global de renda e nas tensões internacionais, refletidas na ascensão de novas potências econômicas e em instabilidades políticas em países desenvolvidos.
Milanovic, especialista em desigualdade, afirma que Trump promoveu medidas como desregulamentação e cortes de impostos, característicos do neoliberalismo doméstico. No entanto, sua agenda internacional adotou estratégia mercantilista, com tarifas elevadas e políticas protecionistas visando proteger o mercado nacional. Esse contraste representa uma ruptura em relação ao neoliberalismo clássico, que defendia a liberalização global do comércio.
O economista relaciona a ascensão econômica da Ásia nas últimas décadas à mudança no equilíbrio global de poder. Países como China, Índia, Indonésia e Vietnã ampliaram sua renda média, ultrapassando em alguns casos a classe média alta ocidental. Essa redistribuição trouxe descontentamento às classes médias dos EUA e da Europa, criando ambiente para a eleição de líderes como Trump e para instabilidades políticas.
No Brasil, Milanovic destaca o progresso na redução da desigualdade nas últimas duas décadas. Entre os países latino-americanos, o Brasil é um dos que mais diminuiu a disparidade de renda, apesar de ainda apresentar níveis elevados. A atual reforma do Imposto de Renda, que visa isentar os rendimentos até R$ 5 mil e tributar progressivamente os mais ricos, é vista pelo economista como capaz de aprofundar essa redução, mesmo com riscos associados à fuga de capitais.
O debate brasileiro sobre tributação dos dividendos e maior taxação dos super-ricos tem gerado resistência de setores econômicos influentes, que temem impactos negativos para a competitividade. Milanovic pontua que tal resistência é esperada e vinculada ao interesse de manter privilégios. No entanto, ressalta que, na prática, a fuga de recursos para o exterior costuma ser limitada, pois o retorno financeiro maior está no mercado doméstico.
Em seus estudos históricos, Milanovic resgata a análise de desigualdade feita por autores clássicos, mostrando que, enquanto antes o foco era a distribuição por classes sociais, hoje o debate enfatiza desigualdade interpessoal e o papel das elites. Segundo ele, o pensamento neoclássico predominante ignorou muitos aspectos estruturais da desigualdade por motivações políticas e mudanças conceituais no campo econômico.
Milanovic também observa que a Guerra Fria teve papel importante no silêncio acadêmico sobre desigualdade, sobretudo nos países desenvolvidos, e que a América Latina constituiu exceção devido à intensidade da desigualdade e à menor influência das pressões políticas da época. Isso contribuiu para maior produção acadêmica e políticas voltadas para o tema na região.
A “curva do elefante”, conceito criado pelo próprio economista, ajuda a explicar o crescimento desigual global dos últimos 40 anos, indicando ganhos significativos para a classe média de países emergentes, enquanto as elites ocidentais foram parcialmente substituídas por uma nova elite global que inclui integrantes da Ásia e do Brasil. Essa dinâmica amplia tensões sociais e políticas nos países desenvolvidos.
Com a publicação de seu novo livro “The Great Global Transformation: National Market Liberalism in a Multipolar World”, previsto para ser lançado nos EUA em novembro e no Brasil em 2026, Milanovic expande suas análises sobre o impacto geopolítico da mudança no equilíbrio econômico global. Ele ressalta que a crescente rivalidade entre EUA e China reflete essas transformações estruturais.
A análise do economista revela que o neoliberalismo de Trump é diferente do padrão tradicional. Ao favorecer o mercado interno com desregulamentações e redução de impostos, mas adotar medidas protecionistas no comércio internacional, Trump inaugurou um modelo híbrido que reflete as mudanças em um mundo multipolar. Esses fatores influenciam não apenas as economias nacionais, mas também a estabilidade global.
Em suma, a ascensão da Ásia, as mudanças na composição da elite mundial e as transformações políticas em países desenvolvidos, exemplificadas pelo governo Trump, são elementos centrais para entender os desafios contemporâneos da desigualdade e da geopolítica. No Brasil, a reforma tributária em discussão representa um esforço para enfrentar a desigualdade em um contexto global de transformação econômica.
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Fonte: g1.globo.com
Fonte: g1.globo.com