Pop & Arte

‘O 8 de janeiro de 2023 não foi um acontecimento

‘O 8 de janeiro de 2023 não foi um acontecimento
  • Publishedsetembro 11, 2025

‘O 8 de janeiro de 2023 não foi um acontecimento banal’, diz Cármen Lúcia

A ministra Cármen Lúcia iniciou seu voto nesta quinta (11), no julgamento de Bolsonaro e aliados, citando o poema “Que país é este?”, do poeta mineiro Affonso Romano de Sant’Anna.

“Outro dia, um amigo querido, Afonso Borges, me levou a reler e pensar sobre uma grande obra (…) e ali, o autor poetava em sofrimento”, relembrou a ministra, antes de ler o trecho do poema:

“Uma coisa é um país, outra um fingimento. Uma coisa é um país, outra um monumento. Uma coisa é um país, outra o aviltamento (…) Este é o país do descontínuo, onde nada congemina”.

A ministra passou, então, a falar sobre o papel do povo na produção da história de um país. Em seguida, relembrou o histórico democrático do Brasil, destacando as eleições realizadas ao longo do período.

A ministra também citou o autor Victor Hugo, dizendo que “o mal feito para o bem continua sendo mal”. Além disso, mencionou que Hugo foi um “ferrenho oposicionista ao golpe de Estado de Napoleão III” e escreveu no livro “História de um Crime” uma passagem de um diálogo entre um dos interlocutores, que propõe um golpe de Estado “para o bem”.

O voto da ministra é o quarto no julgamento que envolve o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros sete acusados por participação na tentativa de golpe de Estado em 2022.

Quem é o autor do poema

Nascido em 1937 em Belo Horizonte, Minas Gerais, Affonso Romano de Sant’Anna foi um escritor e poeta conhecido pelo papel fundamental na popularização da leitura no Brasil. Ele morreu no dia 4 de março de 2025, e deixou mais de 60 obras em seis décadas de intensa produção.

Com uma produção literária extensa e influente, focou no engajamento social ao longo de sua carreira, tornando-se um dos nomes mais marcantes da literatura nacional. A obra “Que país é este?”, citada por Cármem Lúcia, virou um símbolo de mobilização popular.

Leia o primeiro fragmento do poema na íntegra:

Uma coisa é um país,

outra um ajuntamento.

Uma coisa é um país,

outra um regimento.

Uma coisa é um país,

outra o confinamento.

Mas já soube datas, guerras, estátuas

usei caderno “Avante”

— e desfilei de tênis para o ditador.

Vinha de um “berço esplêndido” para um “futuro radioso”

e éramos maiores em tudo

— discursando rios e pretensão.

Uma coisa é um país,

outra um fingimento.

Uma coisa é um país,

outra um monumento.

Uma coisa é um país,

outra o aviltamento.

Deveria derribar aflitos mapas sobre a praça

em busca da especiosa raiz? ou deveria

parar de ler jornais

e ler anais

como anal

animal

hiena patética

na merda nacional?

Ou deveria, enfim, jejuar na Torre do Tombo

comendo o que as traças descomem

procurando

o Quinto Império, o primeiro portulano, a viciosa visão do paraíso

que nos impeliu a errar aqui?

Subo, de joelhos, as escadas dos arquivos

nacionais, como qualquer santo barroco

a rebuscar

no mofo dos papiros, no bolor

das pias batismais, no bodum das vestes reais

a ver o que se salvou com o tempo

e ao mesmo tempo

– nos trai

Fonte: g1.globo.com


Fonte: g1.globo.com

Written By
Vitor Souza

Leave a Reply