O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quarta-feira (3) que as tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos às exportações brasileiras refletem problemas internos de Brasília e a relação de autoridades americanas com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e não um desequilíbrio comercial ou uma reação à guerra na Ucrânia. A declaração ocorreu durante a passagem de Putin por Pequim, onde participou de eventos diplomáticos e militares.

Putin explicou que as sanções americanas ao Brasil diferem das aplicadas à Índia, pois no caso brasileiro a taxação está ligada a questões políticas internas e não a desequilíbrios no comércio bilateral. Ele ressaltou que o início da taxação em 6 de agosto antecedeu a data inicialmente prevista para 8 de agosto, e que a guerra na Ucrânia serve apenas como um pretexto para as medidas econômicas adotadas pelos EUA.

O líder russo também afirmou que praticamente não discutiu o tema com autoridades chinesas durante sua estada em Pequim, pois entende que “isso realmente não nos diz respeito”. Segundo ele, o conflito na Ucrânia tem sido usado para justificar sanções contra países com os quais Washington tem desentendimentos econômicos.

Em julho, Donald Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos importados do Brasil, motivando uma carta direcionada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na qual pediu o fim do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-presidente brasileiro responde a um processo por suposta participação em uma trama para impedir a posse de Lula após as eleições de 2022.

Na correspondência, Trump classificou o julgamento como uma “caça às bruxas” e apontou supostas decisões do STF que ordenaram o bloqueio de usuários de redes sociais por apologia ao golpe como “censura secreta e ilegal”. A imposição da tarifa também foi justificada pelo protecionismo comercial do Brasil, segundo o ex-presidente dos EUA.

O governo brasileiro rejeita a alegação de que sua política comercial desequilibra a relação bilateral, destacando que os EUA tiveram um superávit de US$ 43 bilhões no comércio com o Brasil na última década, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. O presidente Lula classificou a medida como intervenção no Judiciário nacional e afirmou que o Brasil não aceitará tutelas externas.

Em relação à Índia, os EUA justificaram a sobretaxa pelo aumento de compras de petróleo russo pelo país asiático. O Brasil, por sua vez, importou cerca de 60% do diesel consumido nos últimos quatro anos proveniente da Rússia, mas essa ligação jamais foi citada diretamente como motivo para a tarifa americana. A ameaça de sanções em função da compra de combustível russo foi feita após a aplicação da sobretaxa sobre produtos brasileiros.

Durante sua visita à China, Vladimir Putin participou do desfile militar em Pequim para celebrar o 80º aniversário da vitória chinesa sobre o Japão na Segunda Guerra Mundial, encontro que contou também com a presença do líder norte-coreano Kim Jong Un. O Brasil foi representado pelo assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, enquanto a ex-presidente Dilma Rousseff esteve presente como presidente do Banco dos Brics.

Putin ainda participou da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO) e teve conversas com o presidente chinês Xi Jinping. Segundo relatos, o diálogo entre os líderes abordou temas estratégicos sem aprofundar a questão das tarifas americanas ao Brasil.

A avaliação do presidente russo indica que a disputa entre EUA e determinados países passa por múltiplas dimensões, incluindo política interna e alianças econômicas, sendo que a guerra na Ucrânia é usada como contexto para medidas que teriam motivações mais amplas.

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Fonte: g1.globo.com