A banda Planet Hemp inicia em setembro a turnê de despedida “A Última Ponta”, que passará por dez capitais brasileiras até dezembro. Os integrantes criticam o uso atual da liberdade de expressão por grupos conservadores que, segundo eles, defendem a volta da ditadura militar, distorcendo o legado político da banda.
Fundado há 30 anos, o Planet Hemp marcou o cenário musical brasileiro com um rap que misturava política e contracultura, surgindo no período após o fim da ditadura militar. O grupo ajudou a fortalecer uma identidade carioca no hip-hop, distante do modelo paulista, e promoveu temas ligados à legalização da maconha e à liberdade de expressão.
A turnê começa em Salvador no dia 13 de setembro e passa por Recife, Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Goiânia, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, encerrando-se no Rio de Janeiro em 13 de dezembro. Este roteiro marca o encerramento das atividades da banda, que deixou legado artístico e político na cena cultural do país.
Os integrantes ressaltam que a liberdade de expressão, tema central na obra do grupo, hoje sofre um “sequestro” por parte de pessoas que defendem o retorno da ditadura. B Negão, um dos vocalistas, afirmou que “os filhotes da ditadura militar dizem que querem liberdade de expressão para pedir a volta da ditadura”.
O discurso do Planet Hemp sempre falou sobre temas controversos, como a legalização da maconha, que gerou episódios como a prisão integral da banda em 1997 por suposta apologia durante um show no Rio de Janeiro. O álbum de estreia tinha músicas que se tornaram hinos do movimento pela regulamentação da planta.
Para Marcelo D2, um dos fundadores, o debate sobre a maconha revela desigualdades sociais no país. “Para brancos, ricos, que moram em condomínios, a maconha é legalizada; para o resto, não”, explicou, destacando o caráter político da pauta.
Além da questão das drogas, os artistas relacionam a perseguição e os ataques atuais contra músicos a uma ascensão conservadora no Brasil. Eles mencionam o caso recente do rapper Poze do Rodo, que enfrentou acusações semelhantes sob a alegação de incitar violência e apologia ao tráfico.
Segundo os membros do Planet Hemp, esse movimento conservador utiliza a retórica da moral e da família para justificar atos contraditórios, incluindo associação com o crime organizado e apoio a regimes autoritários. “Os conservadores do Brasil são muito engraçados. Eles são envolvidos com tráfico de drogas, com golpe militar, que falam da família brasileira e não honram a própria família”, disse B Negão.
A banda enfatiza ainda que a liberdade de expressão não pode ser usada para legitimar crimes ou discursos de ódio. Marcelo D2 afirmou que “sequestraram as nossas causas” ao observar que o conceito tem sido distorcido para esconder ideologias antidemocráticas.
Durante as três décadas de carreira, o Planet Hemp manteve um posicionamento político e contracultural, refletindo os anseios de uma juventude que buscava espaço para se expressar sem medo. A diversidade interna do grupo, com membros de diferentes origens e estilos, foi apontada como fundamental para a criação de um som original e representativo da cultura carioca.
Ao final, Marcelo D2 resume a abordagem da banda: “Nada nos foi dado”. Ele afirma que a vontade de lutar por mudanças permanece viva e destaca que a turnê de despedida é uma forma de manter aceso o legado da banda mesmo diante de um cenário político considerado preocupante pelos artistas.
O encerramento da trajetória do Planet Hemp ocorre em um contexto de tensões sociais e políticas, com os integrantes reafirmando a importância da liberdade de expressão e da diversidade cultural como elementos centrais para o progresso do país.
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Fonte: g1.globo.com
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