Apple impulsiona indústria tecnológica chinesa e fortalece c

A Apple mantém 87% de seus fornecedores com fábricas na China, segundo análise de 2024 do jornal japonês Nikkei Asia, evidenciando o papel estratégico do país asiático na cadeia produtiva da empresa americana. A concentração da produção na China, iniciada no início dos anos 2000, impulsionou o desenvolvimento tecnológico e industrial chinês, intensificando a concorrência global com os Estados Unidos.
A decisão da Apple de fabricar a maior parte de seus produtos na China aumentou sua margem de lucro e financiou a capacitação da indústria local. Com o tempo, fornecedores chineses passaram a substituir fabricantes estrangeiros em componentes essenciais como lentes, telas, módulos de câmera e chips. Atualmente, mais da metade dos fornecedores da Apple tem sede na China ou em Hong Kong, o que mantém a dependência da empresa de produção e mão-de-obra chinesa.
Especialistas destacam que a China utilizou a presença de gigantes como Apple, Volkswagen, Bosch, e Samsung para desenvolver sua economia e tecnologia de forma deliberada. Segundo o pesquisador Kyle Chan, da Universidade de Princeton, convidar essas empresas a fabricar no país não se limitou à produção; houve a condição de que elas contribuíssem com o avanço tecnológico chinês.
Esse movimento favoreceu a emergência de empresas chinesas de tecnologia capazes de competir globalmente. A Huawei, Xiaomi e BYD são apontadas como exemplos de companhias que cresceram com o apoio e conhecimento adquiridos na fabricação para empresas ocidentais. Essa transformação alterou o equilíbrio do setor, colocando a China, cada vez mais, na disputa pela liderança tecnológica.
A corrida pela inteligência artificial (IA) exemplifica essa competição. Embora os Estados Unidos tenham lançado o GPT-3 em 2020, a China apresentou em janeiro de 2024 o chatbot DeepSeek, com desempenho semelhante e custo menor. Este desenvolvimento veio apesar das restrições americanas à exportação de chips avançados para IA, exigindo que a China treinasse seus modelos com versões menos potentes.
Desde 2022, os Estados Unidos impedem a venda dos chips Nvidia H100, os mais avançados para IA, à China. Contudo, a pressão das sanções impulsionou a China a acelerar esforços para criar sua própria tecnologia e cadeia de produção independente. Caso da Huawei, que desenvolveu seu próprio sistema operacional e chips após ser incluída na lista negra americana em 2019 devido a acusações de espionagem.
O modelo chinês apresenta características distintas, como o forte investimento estatal em setores estratégicos e planos de longo prazo. Diferentemente dos Estados Unidos, onde o mercado norte-americano orienta os investimentos, o governo chinês mantém apoio contínuo mesmo diante de retornos econômicos imediatos limitados. A competição interna, estimulada por governos regionais, também contribui para a dinâmica de inovação e crescimento.
Outro fator relevante é a escala populacional da China, que permite testar e implementar rapidamente novas tecnologias em uma base ampla. Esse acesso a grandes volumes de dados acelera, por exemplo, o desenvolvimento e a aprovação de medicamentos, especialmente na área de oncologia.
Apesar dos avanços, especialistas apontam riscos para a China se não conseguir ampliar sua aceitação global, principalmente no estabelecimento de padrões internacionais. Para mitigar essa limitação, o país tem ampliado sua influência em outras regiões, como o Sul Global, por meio da Iniciativa Cinturão e Rota e maior participação em organismos multilaterais.
O deslocamento do centro tecnológico mundial não elimina a liderança dos Estados Unidos, que ainda detêm vantagens em tecnologias fundamentais e chips avançados. No entanto, a rápida evolução chinesa na inovação e produção em escala mostra que a disputa será cada vez mais acirrada e multifacetada.
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Fonte: g1.globo.com
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