Zezé Motta estreia o monólogo “Vou fazer de mim um mundo” no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, em cartaz até 5 de outubro, para abordar o racismo e a violência sexual por meio da palavra e da música. O espetáculo, dirigido por Elissandro de Aquino, tem origem nos escritos da escritora e ativista Maya Angelou e traz um diálogo entre arte, ativismo e memória histórica.
No palco, Zezé Motta reúne música e interpretação, acompanhada pela percussionista Mila Moura e o guitarrista Pedro Leal David, que assina a direção musical e os arranjos. O roteiro se baseia no livro “Eu sei porque o pássaro canta na gaiola”, autobiografia de Angelou que relata sua infância marcada pela segregação e abuso nos Estados Unidos das décadas de 1930 e 1940.
A dramaturgia utiliza os textos de Angelou para refletir sentimentos e experiências do povo negro, culminando em uma saudação a personalidades importantes do movimento negro brasileiro e internacional, como Abdias do Nascimento, Carolina Maria de Jesus e Elza Soares. O espetáculo valoriza a resistência e a luta contra as opressões sociais.
A cenografia traz elementos que remetem às plantações de algodão do sul dos Estados Unidos, cenário da vida de Angelou, e cria uma ambientação que conecta passado e presente. A trilha sonora, que mistura ritmos afro-brasileiros e blues, pretende aproximar as tradições musicais do Brasil e dos Estados Unidos, reforçando as raízes comuns da diáspora africana.
Pedro Leal David, diretor musical, destaca a intenção de unir estilos como o blues e o violão de nylon, evocando referências que vão de Baden Powell à música tradicional brasileira, criando uma atmosfera sonora que acompanha o drama pessoal e político narrado. Os arranjos intensificam o impacto dos momentos em que Zezé aborda os abusos sofridos por Angelou.
O repertório inclui canções de diversas origens, como o samba “A carne”, de Seu Jorge e Marcelo Yuka, e clássicos que marcaram a carreira de Zezé Motta, como “Magrelinha”, de Luiz Melodia. O espetáculo ainda apresenta interpretações de “Amor de índio”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos, e “Soluços”, de Jards Macalé, ampliando a diversidade musical e poética da obra.
Através da integração entre música e texto, Zezé Motta expressa a superação do trauma e o compromisso com a luta antirracista, em um espetáculo que reúne ativismo e arte cênica. O monólogo representa o engajamento da artista com temas sociais relevantes e seu esforço para dar voz e visibilidade às histórias de mulheres negras e suas resistências.
“Vou fazer de mim um mundo” é a primeira experiência solo de Zezé Motta no teatro e acrescenta uma nova dimensão à sua trajetória artística, consolidando sua presença como interlocutora dos desafios enfrentados pela população negra no Brasil e no mundo. O espetáculo permanece em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro até o início de outubro.
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Fonte: g1.globo.com
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Fonte: g1.globo.com