O governo dos Estados Unidos comprou uma participação

O governo dos Estados Unidos comprou uma participação de 9,9% na fabricante de chips Intel, em um investimento de US$ 11,1 bilhões anunciado na sexta-feira (22) e que deve ser concluído na terça-feira (26). A movimentação foi realizada utilizando recursos de subsídios aprovados durante o governo Biden, mas a forma do apoio foi alterada pela administração Trump para incluir participação acionária.

O investimento total de US$ 11,1 bilhões corresponde a subsídios ainda não pagos previstos na Lei Chips, na ordem de US$ 5,7 bilhões, e US$ 3,2 bilhões do programa Secure Enclave, além de US$ 2,2 bilhões já recebidos anteriormente pela Intel. O governo também obteve um desconto de 17,5% na compra das ações, adquiridas por US$ 20,80, ante preço de mercado de US$ 24,80 por ação.

A Lei Chips, aprovada durante o governo Biden, destinou US$ 52 bilhões para estimular a indústria de semicondutores nos Estados Unidos. A mudança promovida por Trump opta por transformar parte desse suporte financeiro em participação direta, tornando o governo acionista da Intel. Segundo o comunicado da própria empresa, o governo americano será um acionista passivo, sem direito a voto no conselho nem acesso a informações estratégicas.

O presidente Donald Trump afirmou que os EUA “não pagaram nada” pela participação, pois os recursos utilizados já estavam previstos em subsídios. Segundo ele, o acordo surgiu durante uma reunião recente com o CEO da Intel, Lip Bu Tan, após ter pedido a renúncia do executivo por suas ligações prévias com a China.

A Intel destacou o acordo como um marco que demonstra a confiança do governo americano no papel estratégico da empresa no setor de semicondutores. Ainda assim, no documento divulgado pela empresa, foi informado que a participação do governo pode representar riscos aos negócios, incluindo possíveis impactos negativos em vendas internacionais e limitações no acesso a futuros subsídios.

Além disso, a participação governamental pode reduzir a influência dos demais acionistas, uma vez que poderes regulatórios exercidos pelo governo podem restringir a capacidade da empresa em realizar negociações favoráveis aos investidores. A notícia da compra fez as ações da Intel fecharem em alta de 5,5% na sexta-feira, mas houve queda de 1% nas operações após o fechamento, quando os termos do acordo foram detalhados.

A estratégia adotada pelo governo Trump, incomum no contexto dos EUA, reflete uma tendência de maior intervenção estatal no mercado, especialmente em setores estratégicos. Recentemente, outras empresas como Nvidia e AMD também firmaram acordos para repassar parte da receita obtida na China ao governo americano.

Exemplos similares incluem a venda da siderúrgica US Steel para a japonesa Nippon Steel, em que o governo norte-americano garantiu uma “golden share”, lhe conferindo direito a veto em decisões corporativas, e a intenção de se tornar o maior acionista da única mina de terras raras em operação no país, controlada pela MP Materials.

Especialistas observam que a gestão Trump amplia as possibilidades de intervenção estatal em empresas privadas, com abordagens que focam em acordos pontuais com companhias específicas, diferindo de políticas gerais de incentivo industrial. Por outro lado, há apoio à estratégia, sobretudo por considerar setores como semicondutores e terras raras vitais diante da rivalidade entre EUA e China.

Para alguns analistas, a decisão de investir na Intel sinaliza uma mudança necessária na política industrial dos EUA, abandonando a ideia de um mercado totalmente livre para adotar medidas semelhantes às de outras economias avançadas, onde o apoio governamental a setores estratégicos é comum.

Em resumo, o governo dos Estados Unidos converteu subsídios previstos em participação acionária na Intel, transformando-se em sócio da empresa. A iniciativa representa uma nova forma de intervenção estatal, com potencial impacto no funcionamento e na competitividade do setor de semicondutores no país.

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Fonte: g1.globo.com