Cresce comércio ilegal de documentos médicos falsos no Telegram

Remédios, receitas e atestados médicos falsos viram negócio nas redes sociais; plataformas lucram com anúncios O mercado ilegal de venda de atestados médicos, receitas e medicamentos falsos nas redes sociais cresce de forma alarmante no Brasil, utilizando principalmente o Telegram como principal palco para essa prática criminosa. Dados inéditos obtidos pelo g1 revelam uma expansão de mais de 20 vezes…
Remédios, receitas e atestados médicos falsos viram negócio nas redes sociais; plataformas lucram com anúncios
O mercado ilegal de venda de atestados médicos, receitas e medicamentos falsos nas redes sociais cresce de forma alarmante no Brasil, utilizando principalmente o Telegram como principal palco para essa prática criminosa. Dados inéditos obtidos pelo g1 revelam uma expansão de mais de 20 vezes em sete anos na quantidade de anúncios desse tipo, evidenciando um problema grave para a saúde pública e a segurança dos profissionais de saúde.
Crescimento exponencial do mercado e envolvimento de médicos
O pediatra João Batista, de 72 anos, é um dos muitos profissionais que têm seus dados médicos usados ilegalmente na emissão de documentos falsos. Ele recebeu denúncia do Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo sobre uma série de atestados emitidos em seu nome para pessoas que ele jamais atendeu. “Nunca a vi. Nem sei como conseguiram meus dados”, relata.
Esse não é um caso isolado: médicos de todo o país têm sido vítimas de um esquema que envolve falsificação de documentos, muitos assinados com CRMs e nomes reais, usados para burlar sistemas de saúde e facilitar a venda de medicamentos controlados sem prescrição legítima.
O papel das redes sociais e a estrutura do comércio ilegal
Segundo estudo do pesquisador Ergon Cugler, do CNPq e da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Telegram concentra mais de 15 mil anúncios por ano no Brasil relacionados à venda de documentos médicos falsos, com quase meio milhão de visualizações até julho de 2025. Comunidades com 27 mil membros ativamente comercializam receitas brancas (medicamentos comuns), azuis (psicotrópicos) e amarelas (entorpecentes), todas falsificadas com carimbos e assinaturas verdadeiras.
A operação é altamente organizada: bots automatizados, perfis falsos e marketplaces digitais facilitam a compra, venda e entrega dos documentos, com pagamentos rápidos e acesso imediato, dificultando o rastreamento pela polícia.
Além do Telegram, plataformas como Google, Facebook, Instagram, X e TikTok também abrigam esses mercados ilegais. Anúncios pagos para venda desses documentos foram encontrados, evidenciando lucro indireto das empresas de tecnologia.
Medidas e desafios para frear as fraudes
O Conselho Federal de Medicina (CFM) criou um sistema de rastreamento digital para atestados, que notificaria o médico sobre qualquer emissão para validação instantânea, usando biometria e assinatura digital. Contudo, o projeto foi barrado na Justiça após ação de uma associação de inovação digital, que alega monopólio e falta de integração com outros sistemas de saúde. Atualmente, o processo aguarda decisão em segunda instância, enquanto o CFM defende a iniciativa como ferramenta gratuita para evitar fraudes.
No âmbito federal, a Anvisa iniciou um piloto para emissão e controle eletrônico de receitas de medicamentos controlados, com autenticação em tempo real permitindo conferência nas farmácias. A meta é ampliar a segurança e reduzir fraudes em receitas digitais até o fim de 2025.
Impactos para a saúde pública e conclusões
Especialistas alertam que a circulação de medicamentos controlados sem indicação médica eleva os riscos de automedicação e efeitos adversos graves. Marun Cury, da Associação Paulista de Medicina, aponta que o crime configura exercício ilegal da medicina, com consequências que vão além da fraude: vidas podem estar em risco.
Além disso, a banalização das fraudes compromete a confiança nas instituições de saúde e fragiliza todo o sistema, criando um ambiente vulnerável a outros delitos e ameaças à saúde coletiva.
Apesar do avanço tecnológico e das medidas em andamento, a ausência de uma legislação rigorosa e a dificuldade de fiscalização em plataformas internacionais dificultam a contenção do problema. A falta de representação legal dessas empresas no Brasil contribui para a impunidade dos responsáveis por essa atividade ilegal, que ainda conta com o lucro indireto das redes sociais por meio de anúncios.
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Fonte: g1.globo.com