Mar de Plástico transforma região espanhola em horta gigante da Europa

Imagem: s2-g1.glbimg.com

O controverso ‘Mar de Plástico’ que transformou a região mais seca da Espanha na horta da Europa No sul da Espanha, na região de Almeria, um vasto território de 32.000 hectares está coberto por estufas — uma extensão equivalente a 44 mil campos de futebol. Conhecida como “Mar de Plástico”, essa gigantesca área agrícola é vista da órbita terrestre como…

O controverso ‘Mar de Plástico’ que transformou a região mais seca da Espanha na horta da Europa

No sul da Espanha, na região de Almeria, um vasto território de 32.000 hectares está coberto por estufas — uma extensão equivalente a 44 mil campos de futebol. Conhecida como “Mar de Plástico”, essa gigantesca área agrícola é vista da órbita terrestre como a única construção humana visível a olho nu, segundo a NASA. Nesse complexo entre as cidades de El Ejido e Almeria, são produzidas cerca de quatro milhões de toneladas de alimentos anualmente, destacando-se pepino, tomate, pimentão, melancia e melão, dos quais mais da metade é exportada para países europeus.

Esse fenômeno econômico é especialmente impressionante por ocorrer em uma das regiões mais áridas da Espanha e da Europa, onde chove em média apenas 54 dias por ano. Porém, o sucesso da agricultura intensiva nessa área gera controvérsias ambientais e sociais que estão no centro do debate público atual.

Origens e crescimento do “Mar de Plástico”

A vocação agrícola da região não é recente. Desde o final do século XIX, Almeria mantinha produção agrícola voltada para exportação, especialmente para a Inglaterra vitoriana. Contudo, o impulso decisivo veio em meados do século XX com a descoberta de aquíferos subterrâneos, que permitiram a extração de água suficiente para irrigação. Paralelamente, a adoção das estufas – inspiradas em um sistema holandês, mas adaptadas para uso do plástico, mais resistente aos ventos locais – tornou possível o cultivo intensivo em ambiente controlado.

A combinação de clima favorável, acesso à água subterrânea e inovação tecnológica transformou Almeria em um polo agrícola que, atualmente, responde por 18% das exportações agrícolas da Espanha, gera cerca de US$ 5,1 bilhões anuais, representa 40% do PIB regional e emprega aproximadamente 100 mil pessoas.

Desafios sociais e ambientais

Apesar dos impactos econômicos positivos, o modelo produtivo é alvo de críticas. O excesso na exploração dos aquíferos locais coloca em risco o equilíbrio ambiental da região. O aquífero de Níjar, por exemplo, está superexplorado há mais de 20 anos e consome mais água do que consegue repor naturalmente. O uso intensivo da água, estimado em 130 hectômetros cúbicos por ano, levanta preocupação sobre a sustentabilidade da atividade, especialmente diante das mudanças climáticas.

Além disso, o “Mar de Plástico” é responsável por cerca de 30 mil toneladas de resíduos plásticos anualmente. Embora 85% sejam reciclados, especialistas alertam para o acúmulo de microplásticos na fauna e nos ecossistemas marinhos locais.

Outro problema grave está relacionado às condições de trabalho e moradia de grande parte da força de trabalho agrícola, formada em sua maioria por migrantes, especialmente do norte da África. Ouvidos pela BBC News Mundo, ativistas denunciam exploração laboral, discriminação e falta de acesso a moradias dignas entre os trabalhadores. Estima-se que 25 mil dos 110 mil trabalhadores não possuam contrato formal, e muitos vivem em habitações precárias ou em situação irregular.

Respostas e perspectivas para o futuro

Produtores afirmam ter investido em melhorias nas condições de trabalho, ressaltando que atualmente a maior parte dos trabalhadores tem contratos formais e direitos assegurados. Também destacam o uso de tecnologias como irrigação por gotejamento, que reduz o consumo de água em até 60% em comparação com outras regiões agrícolas.

No entanto, organizações ambientais e sociais defendem que é necessário reduzir a produção para preservar os recursos naturais e garantir a sustentabilidade a longo prazo. A sustentabilidade hídrica é um desafio urgente frente à aridez natural da região, e o excesso de produção pode comprometer irremediavelmente os ecossistemas locais.

O “Mar de Plástico” configura um modelo agrícola único no continente europeu, combinando tecnologia, grande escala e capacitação exportadora. Seu futuro depende agora do equilíbrio entre produção econômica, respeito ambiental e garantia dos direitos sociais. Debates sobre a regulação e mudança do modelo atual podem determinar se essa “horta da Europa” continuará a ser fonte de prosperidade ou se enfrentará crises decorrentes da exploração insustentável.

Palavras-chave:
Mar de Plástico, Almeria, agricultura intensiva, estufas, sustentabilidade, aquíferos subterrâneos, exportação agrícola, produção de alimentos, Espanha, meio ambiente, direitos trabalhistas, agricultura sustentável, resíduos plásticos, migração, condições de trabalho, irrigação por gotejamento, segurança hídrica.

Imagem: s2-g1.glbimg.com


Fonte: g1.globo.com

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